13/07/2007

Indecisão

As vezes ficamos sem saber que atitude tomar.
Com medo de melindrar egos, acabamos por fazer muitas vezes, o que nao queremos criando com isso um sentimento de insatisfação em nós mesmos.
Temo pela minha estabilidade emocional.
Não sei até que ponto conseguirei driblar meus desejos, meus anseios apenas para me fazer cordata.

O Vazio

Quando quero escrever e nada me vem a mente, sinto-me vazia de corpo, vazia de alma.
Aparentemente sem vida.
Inerte.
Inércia que me consome.
Tristeza.
E a mais profunda solidão.
Só estou bem comigo mesma, por que acho que me entendo ou então me aceito como sou.
Queria que alguém viesse em meu socorro.
Mas ninguém aparece e fico desolada, com a impressão de não ser importante para ninguém.
Às vezes sinto tesão.
Mas não sei por que ou por quem.
Nada me vem a cabeça.
Nenhuma figura.
Nenhum som.
Nenhum cheiro.
Tenho medo.
Sinto o medo.
Percebo que só ficaria bem se pudesse voar para longe.
O mais possível.
E aí descubro que não sei para longe de que.
Sufocada.
Hoje, é assim que estou.

Solidão

Reparo de solidão é a tentativa muitas vezes inútil de integração ou reintegração a um grupo, ou a aproximação de alguém que está ou acredita-se, estará por perto o suficiente para preencher a terrível trincheira em que nos encontramos, povoada apenas por fantasmas.
Tento reparar minha solidão às vezes.
Tento em vão não deixar espaço para que o vazio se apresente.
Inútil.
A solidão como já disseram, é um estado da alma.
Minha alma esta só. Penso em Vincent e em como ele também se sentia só.
Sinto a solidão em cada pincelada quando admiro sua obra.
Vi um dos seus famosos Girassóis e o choro foi a forma inconsciente de lhe dizer que a minha solidão encontrara finalmente outra de seu igual tamanho.

É tão difícil...

É tão difícil e solitário dividir sua existência com alguém que não te compreende.
E você se pergunta por que ainda permanece. E não encontra resposta.
Uns diriam que é por amor.
Mas que espécie de amor é esse que te isola, te menospreza, te castiga, não físicamente, mas de uma forma que você jamais se recupera.
Dores atrozes que não deixam marcas visíveis e por isso mesmo inacretitáveis.
Esse comodismo, essa falta de coragem de seguir adiante sem uma muleta, sem alguém a quem culpar, a quem atribuir toda sua solidão e desapontamento, faz com que permaneça presa ao concreto feio e sem cor atirado sobre a monotonia de um relacionamento que está, mas que não é, de forma alguma.

Minha mãe ...

As vezes minha mãe me liga.
Paro tudo que estiver fazendo e dedico toda a minha atenção.
Sou solidária,concordo com tudo que ela diz, incentivo-a a viajar, visitar amigos e parentes para que não se sinta só ou triste.
Ela sempre diz que sou a única que a compreende e termina a conversa com mil abraços e beijos.
E aí me vem sempre aquela sensação de que ela não esperava solidariedade.
Não estava preparada para tanta compreensão.
Não contava com bondade.
Estava sim, disposta argumentar e esbravejar se preciso fosse para defender seus pontos de vista, suas atitudes. Na tentativa de ser gentil e amável acabo decepcionando alguém que tanto admiro.
Não lhe dou a oportunidade de chorar, de se lamentar e me convencer de que é infeliz e por isso tem que sair e se distrair de vez em quando.
Está tão acostumada a ser criticada, que não sabe lidar com a empatia.
Sofreu tanto, que não acredita ter direito a nada que lhe faça sorrir, sem que tenha que brigar por isso.

Minha mãe...

Minha mãe devia andar pelos seis anos, quando foi morar em uma casa de colônia muito velha e muito grande pelo menos para uma criança de seis anos, já que é sabido que quando crescemos as casas diminuem de tamanho.
Meu avô mudava feito cigano e minha mãe nunca soube ao certo quais seriam os motivos dessas mudanças.
Hoje, olhando com olhos de adulta para o passado, ela acredita que seu pai se encrencava por ser mulherengo e tinha que mudar rapidamente antes que um marido mais ciumento o pegasse de jeito.
Fato é que foram parar nesse lugar ermo, onde ele a deixava com sua solidão de menina orfã e saía para trabalhar levando os "meninos homens".
Um dia, alguns cavaleiros bateram palmas e chamaram:"Ô de casa!"
Ela saiu colocando a mãozinha pequenina sobre os olhos para ver melhor, já que eles estavam contra o sol.
Um deles, que parecia ser o chefe, perguntou pela mãe da criança.
Ingênua, disse que não tinha mãe e estava sózinha em casa, pois, o pai e os irmãos estavam na roça.
Ele então perguntou se ela poderia trazer um pouco de pó de café.
Saiu correndo para atender o pedido, como havia sido ensinada pelo pai, embrulhou como pôde um punhado de pó de café e trouxe para entregar ao homem.
Quando estendeu a mão com o pacote o homem a puxou e jogou de qualquer jeito sobre o cavalo saindo em disparada. Minha mãe gritava, pedindo pelo pai, sabendo que àquela hora não havia ninguem que pudesse socorrê-la. E ela gritava mais ainda em seu desespero de nunca mais ver a família.
Quando passaram pela estrada que ladeava a fazenda de Seu Renato, o dono tomava alguma coisa em uma caneca de flandres, enquanto olhava pela janela.
Ao ouvir os gritos da menina, gritou com os desconhecidos, que surpresos por haver um homem por ali aquelas horas, jogaram a menina no pasto e saíram a galope.
Seu Renato e sua esposa recolheram minha mãe, cuidaram de seus ferimentos esperaram meu avô voltar para contar o acontecido.
Mamãe se lembra de ouvir um deles dizendo que os homens eram leprosos, que por não conseguirem mulheres, raptavam crianças para servi-los nos lazaretos.
Sua mãe em forma de anjo devia estar por perto naquele dia.

Meu pai...

Meu pai era sistemático, no dizer de minha mãe.
Para mim ele era antipático, não fazia questão nenhuma de ser delicado com as pessoas.
Tinha um ar arrogante, um jeito de "não preciso de ninguém", que me mantinha afastada.
Uns diziam que ele era bom; para mim ele era apenas indiferente.
Não conversava.
Falava aos solavancos.
Parecia que estava sempre bravo com alguma coisa.
Minha mãe em seu jeito exasperado pedia:
"Fala com jeito com a menina, homem."

A Mulher do Meia Colher

Lá pras bandas onde a Mulher nasceu e também por aí a fora, quando um pedreiro era bom mesmo, era chamado de pedreiro de colher. Já aquele marca pito, que não entendia muito do riscado, ficava conhecido como meia-colher.
Bem, ela vivera quase meio século com o homem que vivia na casa.
Contava que tinha sido empurrada para casar com ele porque vivia em casa de parentes e estes resolveram que era hora de se livrarem do encosto. Pelo menos essa era a versão da Mulher. Tinha visto o homem algumas vezes e tirado umas linhas com ele. Mas sabia que ele era um solteirão.
Naqueles tempos morando na roça ninguém passava dos vinte sem casar!
Ele era cerca de dez anos mais velho que ela. Ela andava aí com uns dezesseis e era muito bonita. Uma lindeza mesmo! Tinha o corpo bem feito. O cabelo comprido, preto e cacheado.
Aquele cabelo que já havia sido rapado por causa de piolhos agora era seu orgulho.
Uma vez por semana ela cozinhava toucinho junto com o feijão, retirava a gordura do couro, amassava bem mesmo e emplastava o cabelo. Embrulhava a cabeça nuns panos que achava na casa e dormia com aquela arrumação.
Acordava cedinho, passava a mão num pão de sabão de cinza e corria para a bica. Arrancava a maçaroca de panos e ia enfiando a cabeça devagarinho embaixo d’agua para se acostumar com a frieza. A frieza de agua ou de sentimento sempre doi.
Lavava até que não ficasse nenhum sinal de gordura. Penteava e sentava por ali, deixando que o sol secasse.
Os cachos ficavam que era um brilho só. Não tinha quem não gostasse.  Nesse tempo ainda sonhava que um dia se casaria com um rapaz bonito que ia se apaixonar por ela tão logo a visse. 
Mas não foi nada disso.
Casaram a Mulher com o solteirão e foi assim que sucedeu. 
Ele era um faz-tudo na redondeza. Mas todas as vezes que ela precisava que fizesse alguma coisa na casa era aquele fuá!
-“Eu num tenho tempo.”
-“Ce ta’ e’com preguiça.”
-“Larga mão disso”.
-“Ce num tem coragem nem pra morrer.”
 Por fim, desacoroçoado de tanta discórdia ele concordava em fazer fosse lá o que fosse.
Pronto a tarefa, começava outro entrevero.
A Mulher reclamava que tinha ficado mal feito. Ele engrossava a voz pra dizer que só tinha feito o que ela tinha pedido.
Ela então choramingava dizendo que sabia que ele ia fazer pouco caso.
Ele respondia:
“Se já sabia pra que pediu?”
A Menina se lembrava de que todas as escadas que o homem fizera enquanto ela estava por ali tinham sempre um lado mais largo. Isso era fato.
A contenda acabava com a Mulher dizendo que ele era um meia-colher.
De maneira que esses escritos são para falar dela, a Mulher do Meia-Colher.