Tia Téia alisava a barriga de cima para baixo, como se alisasse uma prega que o vestido não tinha .
Estava impaciente. Fazia dez dias que estava ali pra fazer mais um parto.
Ela que tinha feito todos os outros. Seis!
Antes era fácil. Moravam na roça. Deixavam para chama-la no ultimo instante.
Era o tempo de arriar o cavalo e seguir o mensageiro de volta.
Com pouco tempo já se ouvia o berreiro que vinha de mais uma boca pra se alimentar. Dessa vez não! Agora eles moravam na cidade grande. Grande não era, mas era a maior que tinha por ali. Nos primeiros sinais de dor já mandaram buscar a tia. Dez dias. Dez dias que ela estava ali!Veio com a roupa do corpo mais uma muda; caso chovesse, nunca se sabe...Mas a criança embirrou, não queria nascer. Parecia até que sabia o que estava esperando por ela aqui do lado de fora. Ia ser mais uma, de olho no fundo, ossos saltados, barriga afundada de quem passa fome...fazer o que? Sétimo filho. Sétimo! Esse povo não sabia nada. Mas sabia fazer filho.
Chovia, mas chovia uma coisa que serve! Enchente das goiabeiras como diz o povo.
A casa muito pobre; tinha um monte de goteira. Uma bem em cima da grávida.
Não sabiam se chegavam a mulher pra lá ou se chegava pra cá.
E ela gritava. Gritava e esperneava. Sempre gostou de chamar atenção.
Numa hora de parto então?, era um rebuliço só.
Dali a pouco a tia entrou. Trouxe uma bacia de água quente, uns trapos e o parto foi feito. Menina. Já tinha duas. As mais velhas. Depois encarriaram quatro meninos.
Agora vinha outra. Só Deus sabe o que ia ser dessa pobrezinha. Nasceu bem. Parecia saudável. Pelo menos isso.Pelo menos isso! Quase dez horas da noite. Enrolaram o neném, e foi todo mundo dormir.
23/06/2015
15/04/2015
Veronica Bolina x Gisberta
Há um ditado que diz: Tal pai, tal filho. Bem, quando Gisberta foi monstruosamente torturada, estuprada de todas as formas e assassinada em Portugal, não me lembro de ver uma única nota sobre o caso no Brasil condenando o ocorrido em terra lusa. Embora Gisberta, como era conhecida fosse brasileira, não mereceu a atenção da mídia tupiniquim. Afinal era uma transsexual. Em Portugal, além da maravilhosa Balada composta por Pedro Abrunhosa, muito pouco se ouviu em repúdio a tão horrendo crime. Portugal não falou, por que Gisberta não era considerada "gente de bem". A Pátria Mãe deu o caso como "uma brincadeira que acabou mal". Portugal não gosta dos diferentes, dos que se assumem diferentes. O Brasil também não. Nesse caso podemos dizer: Tal mãe, tal filha. Não me envergonha mais o preconceito. Ele existe aqui e acolá. Sempre existiu. Me envergonha que ninguém admita que ele exista. Se é necessário esfregar essa verdade na cara de alguém, tenhamos a hombridade de começar com a nossa! Veronica Bolina é criatura de Deus. E como todas as que Ele criou merece respeito.
30/03/2015
Avesso
Estou do avesso?
Devo estar. E talvez por isso, tudo que digo, saia ao contrário.
Quero ficar. Mas o que se ouve é: "Me deixe ir."
Quero amar. E lá vem um :"Não estou a fim."
Me perco em explicações. Quanto mais falo, pior fica.
Penso em te prender na suavidade da trama
que me induz a sonhos de gente grande,
daqueles que, se filmes, seriam proibidos para menores.
Estou do avesso.
E como seria estar do direito?
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