23/06/2015

O Parto

Tia Téia alisava a barriga de cima para baixo, como se alisasse uma prega que o vestido não tinha .
Estava impaciente. Fazia dez dias que estava ali pra fazer mais um parto.
Ela que tinha feito todos os outros. Seis!
Antes era fácil. Moravam na roça. Deixavam para chama-la no ultimo instante.
Era o tempo de arriar o cavalo e seguir o mensageiro de volta.
Com pouco tempo já se ouvia o berreiro que vinha de mais uma boca pra se alimentar. Dessa vez não! Agora eles moravam na cidade grande. Grande não era, mas era a maior que tinha por ali. Nos primeiros sinais de dor já mandaram buscar a tia. Dez dias. Dez dias que ela estava ali!Veio com a roupa do corpo mais uma muda;  caso chovesse, nunca se sabe...Mas a criança embirrou, não queria nascer. Parecia até que sabia o que estava esperando  por ela aqui do lado de fora. Ia ser mais uma, de olho no fundo, ossos saltados, barriga afundada de quem passa fome...fazer o que? Sétimo filho. Sétimo! Esse povo não sabia nada. Mas sabia fazer filho.
Chovia, mas chovia uma coisa que serve! Enchente das goiabeiras como diz o povo.
A casa muito pobre; tinha um monte de goteira. Uma bem em cima da grávida.
Não sabiam se chegavam a mulher pra lá ou se chegava pra cá.
E ela gritava. Gritava e esperneava. Sempre gostou de chamar  atenção.
Numa hora de parto então?, era um rebuliço só.
Dali a pouco a tia entrou. Trouxe uma bacia de água quente, uns trapos e o parto foi feito. Menina. Já tinha duas. As mais velhas. Depois encarriaram quatro meninos.
Agora vinha outra. Só Deus sabe o que ia ser dessa pobrezinha. Nasceu bem. Parecia saudável. Pelo menos isso.Pelo menos isso! Quase dez horas da noite. Enrolaram o neném, e foi todo mundo dormir.